segunda-feira, 19 de abril de 2010

A verdade sobre a morte das vítimas do aborto,de Walter Medeiros

No pé da Serra da Onça -

Alto sertão de Alagoas -

O povo gosta de loas

Mas tem a maior responsa:

Criança, jovem e coroas

Discutem as coisas boas

E combatem gente sonsa.



Pois numa noite bem mansa,

A lua branqueando o Céu,

Foi de tirar o chapéu

E não perder na lembrança

O filho de Dona Bel

Enfrentou seu Miruel

Num assunto que não cansa.



Seu Miruel é ateu,

Do bem ele quer distância;

Homem cheio de ganância,

Rouba até parente seu.

Uma triste discrepância

Que deixa muitos na ânsia

De vê-lo comendo breu.



Além de tudo é perverso,

Sem ética nem moral;

É mesmo gente do mal,

Mas está no Universo;

E seu maior ideal

É ver uma lei fatal

Nascer num novo processo.



Ele defende o aborto,

É homem muito falante,

Tem um tom repugnante

Mas não quero lhe ver morto;

Quero que ele se espante

Com a verdade de Dante

Que é matar um zigoto.



Ao vê-lo todo exaltado,

O filho de dona Bel

Que nunca foi bacharel

Nem tinha sido testado,

Olhou a barra do Céu

E até quem tava ao léu

Foi ouvir o seu recado:



- Neste dia iluminado

Da minha amada vida,

Esta pendenga sofrida,

Cheia de arrazoado,

Ganha a maior guarida

Para ser bem referida

Neste momento rimado.



- Pois neste mundo malvado,

De tanto conceito torto,

Vou também falar do aborto,

Que está sendo analisado

Da roça ao cais do porto,

Temos muito bebê morto

E outros sendo assassinados.



- Alguém terá desconforto,

Mas quero falar da vida

Que é sempre concebida

Como semente no horto,

Quando a mãe engravida

No instante dá guarida

Ao pequenino zigoto.



- Não sei por quê se duvida

Daquele exato momento

Onde surge o rebento

E a pessoa é concebida;

Nem mesmo o mais avarento

Teria outro pensamento

Sobre aquela nova vida.



Ao ver o homem rimando

O povo ficou feliz,

Pois um simples aprendiz

Estava ali ensinando

O que a gente boa diz

No templo e na matriz

E ele foi assimilando.



É mesmo sinal dos tempos

Tamanha aberração,

Pessoas sem gratidão

Que um dia foram rebentos,

Mas defendem punição

Pra quem não tem condição

De defender um intento.



Depois da vida formada

Seus direitos se garantem;

Nem mesmo o mais falante

Consegue mudar mais nada,

Pois se mudar é mandante

De um crime horripilante

Contra a vida iniciada.



Não pode ter exceção,

Nem ser regulamentada,

Se não pode fazer nada

Durante a operação

A mãe pode ser poupada

Mas a criança gerada

Também precisa atenção.



- O que ocorre, entretanto,

É que a coisa é diferente,

Pois tem muito delinqüente

Deixando gente em pranto,

Fazendo aborto indecente

Traumatiza nossa gente

Ou manda pro campo santo.



O filho de Dona Bel

Que tem pequeno apelido

É conhecido por Dido

Falou até de bordel

Foi bastante aplaudido

E se já era querido

Virou rival de Miruel.



- Aborto é incompetência

De pretensos governantes

Que podem ser bem falantes

Mas inventam na ciência

Motivos extravagantes

Pra matar feito marchantes

Muitos fetos, sem clemência.



O filho que foi gerado

Precisa mesmo nascer

Seu direito de viver

Tem de ser assegurado

E o país tem que fazer

Toda segurança ter

Pra não ser prejudicado.



Para evitar o aborto

Tanta gente sem apego

Só precisa de sossego

Não pode fingir de morto

Saúde, escola, emprego,

Formam o melhor arrego

E acaba este ideal torto.



A questão é complicada

De saúde e de moral

Em busca do ideal

Tem gente desesperada

Pois no âmbito legal

Também precisa de aval

Debaixo daquela espada.



Assunto tão vasto assim

Precisa de discussão

Para não ficar na mão

Ou pra não passar por ruim

Vamos ter reunião

Para saber a razão

De tanto aborto enfim.



Aborto é assassinato

De pequeno ser humano

Um gesto muito tirano

Um triste e horrendo fato

Pois o feto com os anos

Sem perigo de enganos

Pode ser Messias nato.



Uma criança, um filho,

É o que o feto é

Na barriga da mulher

Pode não ter todo brilho

Pois quando em Nazaré

Maria provou a fé

Jesus não foi empecilho.



Quem pode dispor na vida

Da vida de outro alguém?

Eu não conheço ninguém,

Pessoa tão atrevida

Que tenha tanto desdém

Para fazer algo além

Dessa missão recebida



Uma nova vida humana

Não pertence a ninguém

Nem mesmo a mãe detém

A potência tão profana

Pegar futuro nenén

Matar um Matusalém

Que dura poucas semanas



Miruel estava calado,

Ouvia a rima do Dido

Mas com um tom atrevido

Resolveu dar um recado

Que o aborto tinha sentido

Pois ele tinha ouvido

A fala de um deputado.



Dido então se concentrou

E virou-se pro seu lado

Com um tom emocionado

Rapidamente pensou

E naquele seu rimado

Sem se sentir rebaixado

Mais uma rima mandou:



- Já pensou, seu deputado,

Se a sua genitora

Fosse uma abortadora

Quando o senhor foi gerado?

O Brasil outro seria

O senhor não viveria

Tinha sido assassinado.



Mostrando conhecimento

Dido estava inspirado

E Miruel, meio acuado,

Já estava meio bufento

Já que tinha começado

Ficava todo animado

A cada novo momento.



Ninguém sabe de onde veio

A carga de informação

Talvez da televisão

Pois ele nunca fez feio

Assiste a programação

Se liga até no plantão

E nunca tem aperreio.



O jovem continuou

Sua bela prelação

Naquela situação

O aborto ele taxou

De morte sem compaixão

Pois lá na fecundação

A vida já se formou.



Aborto é infanticídio

Pois a mãe mata o filho

Que considera empecilho

Isso também deu no vídeo

Mas é também um martírio

Não digam que é delírio

Pois é tudo homicídio.



Tem quem diga que o aborto

É uma “interrupção”

Isso não é nada são

Por resultar em bebê morto

É uma intervenção

Sem qualquer contemplação

Deixa Miruel num oito.



Se trata de defender

Quem não pode protestar

Pois gerado já está

Deseja sobreviver

Mas alguém quer lhe matar

Se sua mãe abortar

Seu direito é só sofrer.



Além de ser natural

A ida tem algo mais

Deus disse “Não matarás”

Como lembra o Cardeal

O pastor não fica atrás

Diz que é o Satanaz

Que provoca tanto mal.



A ciência comprovou

Algo ainda mais triste

No feto o sistema existe

E ele sente muita dor

Mas a maldade persiste

O desumano não desiste

E anestesia indicou.



Sei que não falei de tudo

Disse Dido a Miruel,

Mas mostrei que é crurel

Você ficou meio mudo

Quem sabe se esse cordel

Não tira você do fel

E lhe faz menos sizudo?



Miruel se concentrou

Para dar sua resposta

Com a voz sempre imposta,

Mas uma lágrima rolou;

Como quem perde uma aposta

Ele admitiu que gosta

Do que Dido lhe falou.



Disse que ia refletir

Sobre coisa tão exata

Que seu amigo relata

Sem intenção de ferir

Sabe que aborto mata

E agora até se retrata

Querendo se redimir.



Dido então se despediu

Abraçando Miruel

Seu jeito de coronel

Parece que se esvaiu

Os dois olharam pro Céu

E como quem toma um mel

A dupla então se uniu.



Agora a causa da vida

Ganha um grande aliado

O homem chegou vaiado

No fim já tinha torcida

E aquela idéia sonhada

Pode ser realizada

Já está sendo aplaudida.



FIM


AUTOR: Escritor, poeta, jornalista e advogado potiguar Walter Medeiros, que foi um dos fundadores do jornal O Galo, da Fundação José Augusto, além de participar de outras tantas publicações. No espaço está disponível “Abelardo, o alcoólatra” entre outras obras, dicas e links de cordel.

Fonte: http://www.rnsites.com.br/cordeis-aborto.htm

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